Observe o primeiro parágrafo de uma reportagem de destaque do jornal O Globo:
RIO – A troca de e-mails de Wellington Menezes de Oliveira está sendo analisada pela equipe da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI). Além da quebra do sigilo do correio eletrônico do assassino, os investigadores conseguiram rastrear um blog feito por Wellington, que usava a página na Internet para disseminar mensagens desconexas sobre religião e jogos como GTA e Counter Strike (CS), onde o jogador municia a arma com auxílio de um Speed Loader, um carregador rápido para revólveres, usado por ele no massacre de alunos na Escola Municipal Tasso da Silveira. Nos dois jogos, acumula mais pontos quem matar mulheres, crianças e idosos.
Os repórteres Antônio Werneck e Sérgio Ramalho obviamente nunca jogaram os GTA ou Counter-Strike, que sequer têm um sistema de “pontos”, crianças ou speed loaders. Mas eles estão fazendo a “obrigação” da imprensa: achar uma explicação mais elaborada para algo com uma explicação bem simples. O assassino de Realengo era um psicopata (ou, mais provavelmente como lembraram, um esquizofrênico em um surto psicótico), sem empatia, louco. Os detalhes serão interessantes para estudantes de disturbios mentais. Para a imprensa, acabou, não há muito mais de relevante a reportar a não ser a necessidade de sangue no Hemorio ou a dor das vítimas. Se ele gostava de videogames violentos, se era fanático religioso ou se tinha barba grande são detalhes que satisfazem a curiosidade mórbida do grande público que consome essas notícias com a mesma voracidade que acompanha a final do BBB, mas não explicam a situação.
É bem verdade que do Massacre de Columbine, nos EUA, para cá, a mídia evoluiu. Até bem pouco tempo atrás pareciam ser os videogames violentos os principais inspiradores de crimes do tipo. Mas agora ele é coadjuvante: e se você tiver o estômago para ler a reportagem de O Globo ou ouvir o Datena na Rádio Band, vai ver que o videogame só ajuda a “compor” o perfil do psicopata. Porque agora o que está na moda é culpar o fanatismo religioso. Mas devemos patrulhar a imprensa para evitar que continuem repetindo bobagens do tipo, antes que a “opinião pública” ressuscite leis anti-videogame.
A superexposição do caso e da intimidade do rapaz só satisfaz a curiosidade mórbida e vira combustível para gente raivosa, como os que picharam a casa dos familiares de Wellington. Devemos deixar isso de lado e discutir um controle mais rigoroso da venda e porte de armas (o exemplo da Inglaterra, motivado por tragédia semelhante, é interessante) e uma campanha para educar as pessoas a detectarem e tratar jovens com transtornos psiquiátricos. Bobagens como a reportagem d’O Globo só desinformam.
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